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Resumo: O que eu aprendi com Paulo Freire

Lucis

Lucis

15 de julho de 2024

As fake news que mais eu lamento existir são as relacionadas à Paulo Freire. A qualidade do conteúdo que é veiculado sobre um dos brasileiros mais formidáveis que já tivemos é vergonhosa. Por outro lado, "Paulo Freire" sempre volta aos Trends – muitas vezes de forma cruel e engraçada. As pessoas comentam sobre, o que faz veículos de comunicação criarem conteúdo explicativo, dando mais visibilidade à sua obra

Dessa vez, eu resolvi me aprofundar e escrever sobre o que eu aprendi. Educação é um tema do meu interesse e acredito que há uma grande oportunidade nessa área para a exploração de novas tecnologias, viabilizando práticas que antes poderiam ser inviáveis.

A ideia principal de Paulo Freire é simples, mas ao mesmo tempo poderosa. Para ele, o ensino deve ser orientado à realidade do educando. Para alfabetização de jovens e adultos, Paulo falava que o pescador deveria começar a aprender palavras do seu cotidiano, como: remo, barco e açude. Já o vaqueiro, aprender: vaca, balde e leite. Quem é educado também é protagonista do processo e não apenas ouvinte de "depósitos de conteúdo".

O seu principal livro, Pedagogia do Oprimido, traz uma outra ideia importante: a educação precisa ser libertadora. Libertadora no sentido de usar a linguagem para identificar e se libertar de situações que tiram liberdade – opressão. Todos nós temos "óculos" que afetam como vemos e agimos no mundo. Educação libertadora é tomar a consciência que temos esses óculos e sermos nós os criadores das receitas.

"Com a palavra, o homem se faz homem. Ao dizer a sua palavra, pois, o homem assume conscientemente sua essencial condição humana."

Pedagogia do Oprimido - Paulo Freire

Seu trabalho é reconhecido mundialmente e, melhor que isso, é forte influência na educação brasileira. Uma prática paulofreireanas que foi especial para mim: a organização da sala de aula em círculo. Eu fui feliz em reviver essa experiência no ensino médio com Professora Celuy. Senti a mesma animação de criança quando sabia que era aula com atividade colaborativa. Me recordo de repetir: "queria que todas aulas fossem assim".

Uma outra área que Paulo Freire estudou e trabalhou foi a extensão: braço das universidades responsável pela comunicação com a sociedade. Em 1961 ele criou e comandou o SEC (Serviço de Extensão Cultural) da Universidade de Recife – antigo nome da UFPE. O objetivo era, espelhando sua pedagogia, dialogar com a sociedade – aprendendo e também servindo.

Eu fiquei encantado com o projeto do SEC. Além de abordar diversos campos de produção artística e cultural, deu voz à uma geração de escritores da época, incluindo Ariano Suassuna. Um dos principais projetos do serviço foi a Rádio Universitária, que continua existindo e hoje se chama Rádio Paulo Freire. Inclusive, foi lá que eu descobri essa história, encontrando-os no Spotify!

Por mais que alguns dos rumores sobre ele falem sobre "doutrinação", a realidade é longe disso. Mesmo com todas intenções, sua aplicação na prática está longe de perfeita. Uma educação que se molda aos educandos é cara. Tal como na computação, mais personalização significa mais linhas de cache que significa mais custo. Com a carga de um professora na educação básica, disponibilizar conteúdo, atividades e tempo para cada um dos alunos individualmente é impraticável.

Com isso, eu não escapo de fazer a careta relação de oportunidade: seria Generative AI (ex: ChatGPT) a invenção tecnológica que faltava para aplicarmos Paulo Freire em todo potencial? Parece fazer todo o sentido: conteúdos, atividades e suporte gerados com o assunto da aula no prompt configurado pela professora, mas com resultados individuais para cada aluno, de acordo com cada realidade. Eu consigo imaginar. Usando o MaritacaAI e provavelmente feito pela UFPE.

Vejo na pedagogia de Paulo Freire mais que práticas educacionais para alfabetização, mas um estudo sobre a condição humana que recomendo à todos que estão em busca de uma vida de liberdade. Uma vida digna, perto das pessoas que você ama e amando as pessoas que você está perto. Para quem se interessa em construir um Brasil próspero, esse é um dos grandes brasileiros a se estudar.

Mudar é difícil, mas é possível. Paulo Freire.

Mudar é difícil, mas é possível (Paulo Freire). Capturada numa parede da UNIRIO Urca.